domingo, 7 de outubro de 2012
Camafeu
Não é o meu melhor.
Sei que mais posso
e mais sou.
É fato que a vida ronda,
muito mais que a morte,
o limite do meu Eu.
No entanto, busco
a sorte como forma
de combate e me
vejo em alto relevo
retratada num camafeu.
Ah! Insano mundo
que gradeou meu olhar
numa viseira de breu.
Voilà!
É que a garganta expele
grunhidos enrouquecidos
e febris de solidão.
Desconheço o meu melhor
porque busco inconstância
na obstinação que emana
do lírico amor de Orfeu.
Não existe mulher Eurídice.
E nem o sal que ardeu suas entranhas
é o mesmo sal que me ardeu.
Não sei do meu melhor.
Pode ser que ressurja do nada
faça-me e me desfaça
e novamente me dê adeus!
Ou, quem sabe, o melhor
já esteja e me faça menos
excêntrica, mais vital,
mais essência e nunca
mais, camafeu!
Aptidão
Havia essência.
Incontestável.
O azul tornou-se amarelo sem perder a linha.
A tênue linha que digeria a íris.
E que através do revés
acenava adeus.
Sem convés.
Havia o antes.
Sempre há.
Onde brilhos cegavam.
E a cegueira, faminta,
fazia o jogo de quem é mais.
Eu, tu, eles? Nós?
Ais aos sais.
Fuligem adesiva.
Na pele, um conto.
Pesponto.
De ré à primeira.
E o castelo, incompleto,
abriu-se inconteste.
Reverências ao capaz.
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